Um novo olhar sobre Hezbollah: o terrorismo frente ao reformismo socioeconômico do partido e à teoria da sociedade de resistência

Os principais elementos de fortalecimento e popularidade do Hezbollah entre a população libanesa são a participação, pós Guerra-Civil, na política parlamentar (como representante dos xiitas - outrora excluídos) fornecendo serviços socioeconômicos e assistenciais; e, essencialmente, o combate à invasão israelense no sul do Líbano até 2000 e em 2006. Tendo como ponto de partida os estudos críticos do terrorismo, neste artigo verificaremos que não obstante a remanescente militarização do grupo, sua postura política é racional e pragmática, pautada nas demandas socioeconômicas internas da sociedade libanesa, na formação de um governo de unidade nacional, na resistência e na construção da autonomia do Líbano frente às potências atuantes na região. O grupo gerencia uma extensa rede de instituições que fornecem serviços de caráter socioeconômico, hospitalar, educacional, financeiro, habitacional, entre outros. A modalidade de nacionalismo islâmico promovida pelo Hezbollah carrega um caráter anti-sectário, autonomista e reformista, o que possibilita a construção de sua legitimidade e alta popularidade entre determinados setores da sociedade libanesa. As ações políticas, militares, religiosas e as instituições socioeconômicas organizadas em rede devem ser analisadas de maneira entrelaçada e holística, produzindo um conjunto de valores e significados que conferem identidade, senso de pertencimento e empoderamento às populações marginalizadas.