
Reinterrogar a ideologia para repensar o político: Lefort, leitor crítico de Marx
Author(s) -
Martha Costa
Publication year - 2018
Publication title -
discurso
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2318-8863
pISSN - 0103-328X
DOI - 10.11606/issn.2318-8863.discurso.2018.147399
Subject(s) - humanities , philosophy
Esta comunicação visa delinear um quadro geral das relações entre Lefort e Marx no que diz respeito ao debate acerca da origem, da função e das transformações da ideologia nas sociedades capitalistas modernas. Dentre a gama de temas que atestam a presença de Marx no pensamento de Lefort (como imaginário social, alienação, luta de classes, etc.), destacamos a centralidade da noção de ideologia, pois com ela está em jogo toda uma articulação de conceitos (história, classe, estatuto da divisão social, real e imaginário, etc.) que dão corpo à concepção política mais ampla do pensador francês. Sendo a ideologia analisada sob diferentes prismas ao longo de sua trajetória intelectual, buscamos nos deter no momento em que Lefort toma distância da concepção originária de Marx, formulada na Ideologia alemã, para alargar a compreensão da ideologia, atentar às suas novas figuras (ideologia totalitária, ideologia invisível) e, no mesmo movimento, reabrir as vias de acesso a um pensamento político. Seguindo e atando os fios do célebre ensaio de Lefort intitulado “Esboço de uma gênese da ideologia nas sociedades modernas” (1974), buscamos indicar os movimentos de continuidade e afastamento realizados por ele com relação ao paradigma de Marx. Pelas novas referências para pensar as ações da ideologia — encobrir a divisão social, desarmar os efeitos do conflito e da indeterminação — encena-se, pois, a crítica lefortiana ao naturalismo de Marx e à sua oposição bruta entre produção e representação, ou ainda, entre imaginário e real. O filósofo francês acrescenta ainda uma nova componente à discussão — o simbólico, como instância distinta à da ideologia — afastando a referência da ideologia a um fundamento exclusivamente econômico e promovendo a reabilitação do político, não mais reduzido, por princípio, ao domínio da mistificação.