
O tema do “deus sem ciúme”: da aphthonia grega à non invidentia agostiniana
Author(s) -
Isabelle Koch
Publication year - 2001
Publication title -
discurso
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2318-8863
pISSN - 0103-328X
DOI - 10.11606/issn.2318-8863.discurso.2001.38053
Subject(s) - humanities , philosophy , art
Sabemos que a noção de criação não tem lugar nas antigas cosmologias. a não ser nos discursos míticos, como o Timeu de Platão. A despeito dessa ausência, os Padres da Igreja não hesitaram em procurar, nas cosmogêneses das losofias gregas. conceitos adequados a ajudá-los a comentar o Gênesis e a lidar com a criação do mundo e dos seres que o habitam. A partir daí, ocorreu a retomada, às vezes surpreendente, de certos conceitos, cujo sentido foi então profundamente modicado, sob a aparente continuidade de vocábulos gregos para vocábulos latinos. Eu gostaria de ilustrar esta tradução capciosa num caso preciso: o uso, por Agostinho, de um tema tradicional grego, que ele encontrou nas Enéadas de Plotino, isto é, a “ausência de ciúme" peculiar aos deuses. Este artigo trata portanto de analisar a passagem - e as transformações que nela têm lugar - da aphthonia que Plotino atribui ao princípio supremo dos seres à non invidentia peculiar ao Deus de Agostinho.