
A padroeira dos filósofos
Author(s) -
Ruy Afonso Costa Nunes
Publication year - 1977
Publication title -
revista de história
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
SCImago Journal Rank - 0.104
H-Index - 3
eISSN - 2316-9141
pISSN - 0034-8309
DOI - 10.11606/issn.2316-9141.rh.1977.76256
Subject(s) - humanities , art
(primeiro parágrafo do artigo)Não podia ser indiferente às moças do século XII o fato de ser uma mulher reverenciada pelos filósofos e teólogos como a sua padroeira. Elas deviam ver com satisfação que o dia da festa de Santa Catarina de Alexandria era feriado na Universidade de Paris. Por isso, embora não pudessem freqüentar as faculdades como os rapazes — impossibilidade que se manteria por muitos séculos — o nível das suas aspirações devia ser bem elevado em matéria de estudos, quando se leva em conta que os maiores sábios da Idade Média liam com enlevo e devoção a Conversio e a Passio de Santa Catarina de Alexandria, a jovem de 18 anos que brilhou pela beleza do corpo, mas ainda muito mais pela beleza da virtude, como cantou Alfano, monge de Monte Cassino e arcebispo de Salerno, em sua Ode em louvor de Santa Catarina. Não foram, porém, os atributos morais os únicos a determinarem a elevação de Catarina às culminâncias do culto a ela prestado pelos universitários medievais. Como diz o mesmo Alfano noutro hino, Cantus in laudem S. Catharinae Virginis, "a doutora confundiu os sábios". Com essa afirmação ele se reportava à discussão que Santa Catarina manteve, conforme a Passio, com os cinqüenta filósofos que ela dominou com o peso da doutrina e o fascínio das palavras.