
O martírio do padre e dos cavaleiros: perspectivas do "morrer pela fé" em Gil Vicente e em José de Anchieta
Author(s) -
Marina Gialluca Domene
Publication year - 2020
Publication title -
revista desassossego
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2175-3180
DOI - 10.11606/issn.2175-3180.v12i23p117-132
Subject(s) - art , humanities , philosophy
O tema da morte – e o que acontece depois dela – é recorrente na arte medieval europeia. O teatro português do período, tendo encontrado seu apogeu em Gil Vicente, encontra também no mestre uma discussão sobre diferentes tipos de almas, de mortes e de destinos. Poucas décadas depois, do outro lado do Oceano Atlântico, a colônia portuguesa na América viu o padre jesuíta José de Anchieta encenar, com a ajuda de outros padres e também de nativos, peças que também discutiam o tema. Este artigo lança o olhar sobre as consequências eternas do martírio religioso. Morrer pela fé católica parece garantir não só a entrada no Paraíso, como também um certo prestígio diante de representantes divinos. Pretendemos analisar de duas peças: o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, em que quatro Cavaleiros Templários são recebidos com honrarias pelo Anjo barqueiro, e o Diálogo de Pero Dias mártir, de José de Anchieta, em que um jesuíta martirizado em alto-mar conversa com o próprio Cristo. O que propomos é perceber as relações dialógicas entre os textos: a inserção em uma mesma tradição teatral e o estabelecimento de uma mesma moral cristã católica quinhentista.