z-logo
open-access-imgOpen Access
Retórica e Memória em algumas estrofes d'Os Lusíadas
Author(s) -
Lourival da Silva Burlamaqui Neto
Publication year - 2018
Publication title -
revista desassossego
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2175-3180
DOI - 10.11606/issn.2175-3180.v10i20p5-21
Subject(s) - humanities , history , poetry , art , literature
Nas sociedades de corte, o poema épico possuía íntima conexão com o discurso historiográfico. Nesses contextos, o enredo da ficção épica era construído sobre um notável feito da história nacional, cabendo ao escritor reconfigurar esse evento na trama poemática (dispositio) e orná-lo com diversos recursos retóricos (elocutio). Dessa forma, a memória dos feitos nacionais e de outras ações louváveis do passado, à medida que constituía uma espécie de arquivo ao qual o autor recorria com o intuito de encontrar a matéria ideal para seu canto, também servia de parâmetro ao leitor que, averiguando as modificações e acréscimos impostos ao episódio histórico, avaliava a capacidade inventiva do poeta. Os Lusíadas, poema épico de Luís de Camões, insere-se nessa dinâmica e apresenta um notável aproveitamento das crônicas portuguesas medievais e dos relatos de viagem lusitanos, constituindo-se no panteão em que estavam presentes tipos históricos ilustres. O autor português, porém, considerando os preceitos de uma poética estruturada sobre Aristóteles (1984), Horácio (1984) e Quintiliano (2015, 2016) imprimiu variações nas suas fontes, articulando a memória dos feitos nacionais com um tratamento retórico engenhoso. Este artigo analisa algumas estrofes presentes nos cantos III e V de Os Lusíadas à luz do conceito memória e do teor retórico dessas passagens. Emprega-se a primeira definição para demonstrar que várias passagens do poema acumulam referências a textos de épocas diversas, aglutinando, em poucos versos, tempos muito distintos. Demonstra-se, assim, que a memória, além de ser um arcabouço de referências simbólicas, é o fio, a faculdade criadora que viabiliza esse amálgama temporal de imagens anacrônicas. Esse caleidoscópio temporal, como demonstram Alves (2011), Ford (2007) e Hansen (2008), possuía correspondência com a própria estrutura da epopeia, caracterizada pela heterogeneidade de gêneros retóricos. Por fim, trata-se brevemente, através do episódio do Adamastor, do esquecimento no panorama renascentista.

The content you want is available to Zendy users.

Already have an account? Click here to sign in.
Having issues? You can contact us here