
A ZOOMORFIZAÇÃO E A DESUMANIZAÇÃO NO ROMANCE "O REMORSO DE BALTAZAR SERAPIÃO" DE VALTER HUGO MÃE
Author(s) -
Murilo de Assis Macedo Gomes
Publication year - 2018
Publication title -
revista desassossego
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2175-3180
DOI - 10.11606/issn.2175-3180.v10i19p133-151
Subject(s) - humanities , philosophy , art
O objetivo desse artigo é discutir o processo de zoormofização e desumanização das personagens na obra O remorso de baltazar serapião (2010), do escritor português Valter Hugo Mãe. Esse processo está em consonância com a organização social tratada na obra, na qual prevalece uma estrutura hierárquica rígida e arcaica, típica da Idade Média. Nesse tipo de sociedade, o papel de cada homem era delimitado de acordo com suas origens sociais e econômicas. Desse modo, percebe-se na obra um fatalismo do destino associado à vida das personagens. A elas é atribuída uma certa condição animalesca que as metamorfoseia em seres híbridos, cujas características encontradas em outros animais as constituiriam. Nesse processo, todas, com exceção de El-rei e da rainha, são zoomorfizadas e algumas, tais como as personagens femininas, são, sobretudo, desumanizadas. Em contraste a isso, a vaca, Sarga, da família de Baltazar seria humanizada. A análise proposta fundamenta-se a partir dos conceitos discutidos por Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995/1997). Dentre eles destaca-se a aliança inter-reinos baseada na ideia de contágio e, em contraposição, a de hereditariedade, como a verdadeira dinâmica da vida e da Natureza. Tal aliança trata principalmente da integração de seres díspares (homem, bactéria, vírus, animais etc.), diferentemente da ideia de classificação e/ou separação dos animais da natureza em espécie, em que o ser humano apareceria como ser superior aos outros seres vivos. Ademais, a análise recairá nas relações de poder dos sujeitos dessa sociedade, onde a tensão da maioria se contrapõe ao da minoria, como tratado por esses teóricos.