
ROLAND BARTHES E A ANATOMIA PALIMPSÉSTICA
Author(s) -
Cristiano Bedin da Costa
Publication year - 2015
Publication title -
revista criação and crítica
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 1984-1124
DOI - 10.11606/issn.1984-1124.v0ispep68-73
Subject(s) - humanities , philosophy , art
Em Roland Barthes por Roland Barthes , recebemos a seguinte indicação de leitura: “Tudo isso deve ser considerado como dito por um personagem de romance”. A frase, ao introduzir aquilo que Eric Marty define como um jogo carnavalesco em que o “eu”, o “ele” e o “vós” alternam-se constantemente, desorganiza o discurso autobiográfico regulado pelas prescrições modernas, fazendo da obra um verdadeiro patchwork: re-escrituras, acréscimos, obliterações em meio aos livros, aos temas, às lembranças, de modo que essa nova enunciação não permite saber se é do presente ou do passado que se fala, tampouco se é mesmo da vida daquele que escreve que se diz. Para Françoise Gaillard, isso se deve ao fato de que a biografia Barthesiana não toma o bios enquanto representante do vivido, mas sim da vida no que tem de mais orgânico: o corpo em suas constantes dilatações e invenções. De fato, em Barthes, o corpo é sempre atópico, incapaz de ser apreendido em sua totalidade. Nele, há sempre um excesso, um rasto insignificante, um mais além de todo sentido. Escrevê-lo, portanto, é participar de uma dispersão: em meio à música, à literatura, à fotografia, ao cotidiano. Esse excesso, essa mistura anti-hierárquica de linguagens e afectos compondo uma anatomia palimpsesticamente impura, é o que aqui deverá nos interessar.