
Zona de tatuagem: um carimbo do estado no corpo do favelado
Author(s) -
Juliana Farias
Publication year - 2019
Publication title -
revista de antropologia
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
SCImago Journal Rank - 0.282
H-Index - 8
eISSN - 1678-9857
pISSN - 0034-7701
DOI - 10.11606/2179-0892.ra.2019.161091
Subject(s) - humanities , art
Tendo como combustível de criação os acontecimentos da 1ª Guerra Mundial, surge uma ficção literária sobre a construção e a utilização de uma máquina estatal que tatuava no corpo do condenado o texto da sua sentença até que as perfurações o levassem à morte. Escrita por Kafka, a ficção Na colônia penal (1919) mostra uma máquina tatuadora enquanto aparelho judiciário, cuja operação ficava nas mãos de um único agente de Estado. Tal ficção foi lida por Clastres (2003) como um anúncio da mais contemporânea das realidades. Compartilhando do mesmo entendimento, encaminho a discussão tomando como referência o aparelho judiciário da ficção para refletir sobre a produção da zona de tatuagem nos corpos dos moradores de favelas. Aciono para a elaboração do debate as reflexões de Pierre Clastres (2003) sobre a tríplice aliança entre a lei, a escrita e o corpo e de Letícia Ferreira (2009) sobre a trajetória burocrática de corpos.