
Dos zebus e seus clones: valor e pedigree em um mercado de elite
Author(s) -
Natacha Simei Leal
Publication year - 2016
Publication title -
revista de antropologia
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
SCImago Journal Rank - 0.282
H-Index - 8
eISSN - 1678-9857
pISSN - 0034-7701
DOI - 10.11606/2179-0892.ra.2016.121931
Subject(s) - zebu , humanities , biology , elite , zoology , political science , art , law , politics
O Brasil comercializa os bovinos de “elite” de origem zebu (da subespécie Bos taurus indicus) – modelos raciais, estéticos e reprodutivos, com pedigree – mais caros do planeta, além disso, através de “parcerias” entre Estado, fazendeiros e laboratórios privados, está à frente no uso e pesquisa de biotecnologias (inseminação artificial, fertilizações in vitro, clonagens) para produzir esses animais. No ano de 2002, a Embrapa realizou um procedimento bem-sucedido de transferência nuclear. Desde então, fazendeiros que investiram em pesquisas experimentais na técnica, passaram a produzir e comercializar clones de importantes reprodutores. Em 2007, um clone da “doadora” Bilara vii, a vaca Ópera, da raça Nelore, foi comercializado por um milhão de reais em um leilão. Apesar das altas cifras pagas pelo animal, ele não pode receber pedigree; na época, nem a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (instituição que controla os padrões raciais e o fornecimento de registros genealógicos de espécimes zebuínos no Brasil), tampouco o Ministério da Agricultura, conseguiram lidar com as controvérsias que Ópera mobilizava: indubitavelmente, ela era “de elite”, mas quem eram, de fato, seus progenitores? Este artigo, através da descrição das controvérsias envolvendo os primeiros procedimentos de transferência nuclear e comércio de bovinos clonados país – pelos laboratórios e em leilões – pretende iluminar a produção e realização do mercado de gado de “elite” brasileiro. Anseia discutir sobre a centralidade da ideia de pedigree na pecuária zebuína, os efeitos do uso de tecnologias reprodutivas, a coalizão de interesses entre empresariado rural e Estado no Brasil, além de refletir sobre o estatuto e valor de bovinos e criadores de “elite”.