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O tema proposto para discussão no Fórum de Pesquisa da 24a RBA e aqui apresentado em forma de artigos – A Pesquisa Antropológica e o Futuro das Populações com Quem se Trabalha: Uma Reflexão Crítica – retoma questões clássicas da disciplina antropológica decorrentes da dupla tarefa do etnógrafo de captar o “ponto de vista do outro”, na sua experiência de campo, e traduzir esse ponto de vista para a sua comunidade de origem. Essa condição de tradutores, no plano cognitivo, está interligada, como bem indica Roberto Cardoso de Oliveira (2004, p. 23), à dimensão de mediadores de cultura, no plano prático, o que, para ele, se efetiva através de uma razão argumentativa. Na execução dessa dupla tarefa, as questões da ética e do compromisso com as minorias estudadas sempre estiveram presentes como partes intrínsecas do ofício, no caso da antropologia brasileira, na qual os antropólogos associaram o conhecimento produzido pelas etnografias (a prática acadêmica) com o uso do espaço público na defesa das populações estudadas (a prática política). Um exemplo significativo dessa postura é a chamada antropologia comprometida, praticada na década de 1970, no auge do autoritarismo no Brasil, por profissionais estimulados pela Declaração de Barbados,1 que invocava o comprometimento com a luta de liberação da população indígena (Santos, 2004, p. 97-98). Em alguns países da América Latina, essa relação entre o fazer etnográfico e o compromisso social configurou-se na oposição entre duas formas de fazer antropologia. Uma, entendida como uma ciência pura, e outra, pensada em termos de uma ciência aplicada, na qual antropologia e indigenismo muitas vezes confundiam-se, como no exemplo mexicano. No caso da antropologia praticada em países colonialistas e imperialistas, a questão da ética e do compromisso com as populações estudadas muitas vezes engendrou acirradas polêmicas no âmbito das entidades profissionais, em decorrência das atividades de profissionais que colocaram em risco ou cujas pesquisas prejudicaram a população estudada. Basta lembrar as implicações decorrentes do Projeto Camelot (1964-1965)2 e da chamada Controvérsia do

O fazer antropológico e a responsabilidade social de seus praticantes: algumas considerações iniciais