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This article discusses the obtainment of natural dyes in São João de Côrtes, Alcântara, Maranhão, extracted from annatto (Bixa Orellana), serrette (Byrsonima Basiloba), red mangrove (Rhizophora Mangle), saffron (Curcuma Longa), genipap (Genipa Americana) and wild indigo (Indigofera Suffruticosa). As an objective, this article proposes a course to discuss aspects of territorial design and to investigate the processes of obtaining the natural dyes from the aforementioned community, emphasizing sustainability. As far as methods, there is a description of the traditional techniques used by residents of the said village for the production of natural dyes, forming a qualitative research with an ethnographic approach which features interaction with the community through interviews with indirect questions, footage and photographs. As for results, there are: the discussion and reflection on the activities of obtaining the natural dyes through the ethnographic experiences presented with the intention of valuing a territory. 102 Os corantes naturais extraídos em São João de Côrtes, Alcântara, Maranhão: uma abordagem orientada para o design sustentável Mix Sustentável | Florianópolis | v.3 | n.4 | p.93-107 | nov. | 2017 PO RT UG UÊ S uma forma adequada de interagir com a comunidade por meio de entrevistas com perguntas indiretas, fotografias e filmagens envolvendo as pessoas que extraem e produzem os corantes naturais. Com visão holística, a análise das observações diretas e intensas permitirá compreender e relacionar o cotidiano com o problema de pesquisa, visando sempre um entrosamento entre o pesquisador e o grupo pesquisado através de uma relação de confiança. O que resultará na descrição dos aspectos mais relevantes para a pesquisa. Rocha e Eckert (2008, p.2) explicam que, para a pesquisa etnográfica, a observação direta “é sem dúvida a técnica privilegiada para investigar os saberes e práticas na vida social”. Os pesquisadores fizeram visitas à comunidade de São João de Côrtes para conhecer os moradores e a vida cotidiana da vila. Em uma das visitas foi possível acompanhar um dos entrevistados, conhecido como Paco (Valdecy Nogueira), para as áreas onde as matérias-primas são extraídas para se obter os corantes naturais. Nestas investigações os pesquisadores obtiveram várias informações sobre as antigas técnicas passadas por várias gerações, bem como sobre as características dos vegetais utilizados, cujos dados fazem parte do conhecimento empírico dos moradores. Paco explicou na ocasião que as pessoas que coletam os materiais precisam estar em sintonia com a natureza, respeitando seus ciclos (Figura 01 e Figura 02). Figura 01: Paco retirando as cascas de mangue vermelho Fonte: Os autores da pesquisa Figura 02: Seleção das raízes de açafrão para o corante amarelo e Paco explicando como retirar a seiva da bananeira Fonte: Os autores da pesquisa O designer, como um profissional que trabalha num mundo aberto às diversidades, entra em contato com as 1. INTRODUÇÃO As demandas e preocupações com a sustentabilidade no mundo contemporâneo fizeram com que o homem voltasse sua atenção para as antigas técnicas de produção de materiais e criasse um novo cenário no qual existem soluções criativas para os problemas, com procedimentos técnicos e racionais. Adélia Borges acrescenta que “antigas técnicas de uso de corantes naturais no tingimento de matérias-primas, que foram abandonadas em favor dos corantes industriais, passaram a ser recuperadas” (BORGES, 2011, p. 61). Segundo Manzini (2008, p.15), pretende-se “a preservação e regeneração do nosso capital ambiental e social”, num esforço para experimentar novos estilos de vida e recuperar processos de produção e consumo. Além disso, as preocupações com a saúde, com o possível prejuízo que os corantes artificiais sintéticos (perigos toxicológicos, por exemplo) podem causar aos seres humanos, igualmente aparecem como forma de justificar a crescente investigação sobre a utilização de corantes naturais (SABRÁ, 2012). Krucken (2009) comenta que há uma demanda por produtos saudáveis e uma história para contar que seja rastreável. O designer, neste contexto, percebe e age para resolver as necessidades dessas novas perspectivas de valores e qualidades, e para isso, de acordo com Krucken, Oliveira e Silva (2014) alguns processos nos quais este profissional pode dar suporte são definidos: na identificação das potencialidades dos recursos e competências locais para uma produção sustentável; no fortalecimento do sentido de pertença dos processos pela comunidade, bem como na promoção do diálogo entre tradição e inovação; no fortalecimento da imagem do produto e seu território. Nesse sentido, um dos grandes desafios do design é tornar os processos e sistemas ao nosso redor inteligíveis, reveladores e compreensíveis (THACKARA, 2008). Desta forma, o objetivo deste artigo é propor um percurso para a análise da obtenção e utilização dos corantes naturais de São João de Côrtes (Alcântara, Maranhão), uma antiga vila de pescadores e carpinteiros navais. 2. ASPECTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS O percurso escolhido para este estudo deve seguir as reflexões de Canclini (1983), ao falar que as coisas têm vida e histórias para contar, e de Clifford (1997) comentando que se deve estar presente em um local específico de pesquisa de técnicas aplicadas e transmitidas por gerações, rituais e cosmologia empregados por moradores da vila em questão, caracterizando-a como pesquisa qualitativa com abordagem etnográfica, em que se recomenda 103 Cláudia do Rosário Matos Nogueira, Raquel Gomes Noronha e Denilson Moreira Santos Mix Sustentável | Florianópolis | v.3 | n.4 | p.93-107 | nov. | 2017 POUGUÊS manifestações culturais de várias comunidades. Esse profissional precisa estar atento, pois “neste mundo contemporâneo e hipermoderno, nem tudo é high tech” (IBARRA; RIBEIRO, 2014, p.10), justificando a valorização das manifestações materiais e simbólicas de uma comunidade maranhense. Nas palavras de Noronha (2012), é necessário compreender os valores da produção artesanal, as representações e os significados implícitos em sua materialidade. O observador conecta-se de uma forma visual, tátil, olfativa e auditiva com os fluxos, com os movimentos do ambiente, interessado em como os materiais podem interagir com as pessoas e vice-versa. Assim, o pesquisador tem que abandonar sua posição intelectualmente soberana e “sentir o mundo” (INGOLD, 2013, p.320). De acordo com estas perspectivas teóricas e metodológicas, a seguir apresentam-se os principais passos para a realização da pesquisa (Tabela 01). Tabela 01: Tabela com os principais passos para a realização da pesquisa Fonte: Os autores da pesquisa 3. DESIGN E SUSTENTABILIDADE: ASPECTOS SOBRE CORANTES NATURAIS Thackara (2008) menciona a preocupação dos ambientalistas com as responsabilidades, mas estes dificilmente se questionam sobre as possibilidades de uma produção sustentável. O designer, por outro lado além de imaginar produtos e sistemas que atendam a questões simbólicas, funcionais e estéticas, visa a sustentabilidade em seus projetos. Vale ressaltar que os produtos sustentáveis não só atendem aos critérios ambientais, mas também às exigências de âmbito econômico e social. Manzini (2008) enfatiza que o projeto tem a capacidade de Gerar visões de um sistema sociotécnico sustentável; organizá-las num sistema coerente de produtos e serviços regenerativos, as soluções sustentáveis; e comunicar tais visões e sistemas adequadamente para que sejam reconhecidas e avaliadas por um público suficientemente amplo capaz de aplicá-las efetivamente (MANZINI, 2008, p.28). De acordo com Rodrigues (2013), o designer comprometido com a sustentabilidade considera todo o ciclo de vida de um produto, ou seja, o que acontece durante a extração da matéria-prima, os estágios de produção e utilização, e como seu descarte é feito. Manzini (2008, p.12) explica que “hoje em dia, a sustentabilidade deveria ser o meta-objetivo de todas as possíveis pesquisas em design”. Além dessas questões, o designer precisa estar ciente das possibilidades de produtos derivados das manifestações simbólicas e materiais de uma comunidade, como a produção de corantes naturais por lugarejos, muitas vezes esquecidos pela população brasileira em geral, como a São João de Côrtes, cujo trabalho com a extração de corantes de plantas é transmitido de geração em geração. Os produtos naturais são questionados sobre sua qualidade e durabilidade, no entanto, entende-se que os usuários deste tipo de produto têm conhecimento sobre suas características e certamente os valorizam justamente por suas composições. O uso de corantes naturais tem sido investigado com veemência, “principalmente depois que se começou a falar em sustentabilidade e nas estratégias para se alcançar as mesmas” (RODRIGUES, 2013, p.18). Krucken (2010) acrescenta, ainda, que o planejamento de ações precisa ser feito através da união de capital social e territorial, que proponham ideias de consumo duradouras e sustentáveis. A saúde também aparece como outra justificativa para essas investigações: Os riscos toxicológicos dos corantes sintéticos para a saúde humana estão intrinsecamente relacionados com o modo e o tempo de exposição [...], ingestão oral, sensibilização da pele, sensibilização das vias respiratórias (CLARKE, 1995 apud SABRÁ, 2012, p.88). 104 Os corantes naturais extraídos em São João de Côrtes, Alcântara, Maranhão: uma abordagem orientada para o design sustentável Mix Sustentável | Florianópolis | v.3 | n.4 | p.93-107 | nov. | 2017 PO RT UG UÊ S puçá (um tipo de peneira ou rede para captura de peixe pequeno) utilizado nas pescas, com produtos retirados da natureza. Neste exemplo, o designer tem a possibilidade de trocar conhecimentos com a comunidade. Certamente, as técnicas de extração e produção de corantes para plantas e a importância da cor nos produtos foram apreendidas com os ancestrais indígenas dessa comunidade, como Proença (2003, p.195) especif

The natural dyes extracted in São João de Côrtes, Alcântara, Maranhão: an approach oriented to sustainable design