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Neste texto trazemos uma escrita “como um convite para ir além, para sair, um convite para abandonar o relato repetido” (SKLIAR, 2016, p. 15). Durante dois anos e meio como professora de filosofia me encontrei com os meninos internos em cumprimento de medidas socioeducativas na Fundação CASA, na cidade de Campinas, SP, Brasil. Este fato foi disparador da pesquisa de mestrado: “‘Di menor’: filosofia da diferença, dobras, imagens e passagens entre vozes marginais da cidade e da Fundação CASA” realizada na Faculdade de Educação da Unicamp. Aqui de forma experimental compomos com as forças e damos passagem a ecos, vozes e linhas de fuga deste local de reclusão que é a Fundação CASA. Na instituição busca-se a produção de uma ordem que normatiza o agir e o pensar dos meninos e que visa uma subjetividade fácil de controlar, diminuindo-se as singularidades e as diferenças. Apaga-se a individualidade para agregá-los a um bando de menores. Kafka e as análises feitas por Deleuze e Guattari em sua da obra “ Kafka: por uma literatura menor” (DELEUZE & GUATTARI, 2017) nos ajudam a pensar este bando de meninos em devir e em privação de liberdade. ‘Di menor’ é um vetor de bando que assim como Josefina, a camundonga, passa “do animal individuado a matilha” (DELEUZE & GUATTARI, 2017, p. 38). Desenvolvemos este pensamento, pois ‘di menor’ tendo sua individualidade apagada pela instituição, sendo matilha, sendo bando não possui nome próprio, não é um, mas sim vários. ‘Di menor’ não tem rosto, não possui nome e devir loucura estoura todos os canos de água, provoca uma inundação e estraçalha fios elétricos em uma rebelião. ‘di menor’ devir de bando fecha em círculo e arrebenta uma cadeira de plástico na nuca do agente de segurança por este humilhar uma cozinheira. E enquanto isto dobrado em outro me diz: — Senhora, fica tranquila, senta aqui perto. Tá com medo do que Senhora? Aqui a Senhora é visita. Ter menos de dezoito anos no Brasil e ser infrator, por hora, significa ter sua identidade protegida pela lei, mas também lhe agrega a este bando ‘di menor’. Aqui trazemos recortes dos ‘di menor’, “ agenciamentos coletivos de enunciação” (DELEUZE & GUATTARI, 2017, p. 38) deste bando, suas falas, escritas disparadas pelo encontros dos meninos internos com as imagens do Coletivo Fabulografias durante a utilização dos postais do coletivo nas aulas de filosofia. Os postais do Fabulografias circularam entre os meninos durante algumas aulas e na volta, organicamente, trouxeram falas escritas em uma linguagem e caligrafia próprias. Eram muitos cumprimentos e notícias de quem muito moço já está encarcerado e separado da vida aqui fora. Foram inúmeras as tentativas de comunicação dos meninos pelos postais com o mundo exterior, todas elas bloqueadas pelas normas da instituição. Aqui apresentamos imagens produzidas pelos meninos e editadas por mim em um momento de fabulação. Sobretudo trazemos um experimento, são sonhos, sementes e germes, notícias, vozes e pensamentos. Uma experiência de “fabulação que se dá na relação”

FABULAÇÃO NA GAIOLA, DOBRAS OU ESQUIZOGRAFIAS DA FUNDAÇÃO CASA