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This article has as its objective an analysis of the play Engravidei, pari cavalos e aprendi a voar sem asas, by Cidinha da Silva, under the perspective of affectivity and loneliness of the black women. For such purpose, it is necessary to discuss a brief historical background of the racial theories (PACHECO, 2013) that pervade the theme and how they contribute to the reflection of the affective-sexual relationships of black women. Key-words: affectivity; solitude; black women; theater. 1. Breve discussão acerca das teorias raciais e seus desdobramentos. O presente artigo propõe-se a analisar as personagens do texto dramático Engravidei, pari cavalos e aprendi a voar sem asas, de Cidinha da Silva (2014), sob o viés da afetividade e solidão da mulher negra. Para tal, serão utilizados como referencial teórico principal a obra Mulher negra: afetividade e solidão (2013), da pesquisadora Ana Cláudia Lemos Pacheco, bem como os estudos de Claudete Alves da Silva Souza (2008). Portanto, será realizada uma breve revisão bibliográfica acerca da temática, seguida de uma análise das personagens da peça e, finalmente, das considerações finais. 1 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – Mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais. 2 Os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) evidenciam o aumento da taxa da solidão feminina, principalmente entre mulheres negras: 52,2% não viviam em união estável naquele momento (PACHECO, 2013). Contudo, essa não é uma situação recente: as pesquisas de Elza Berquó, de 1988, já apontavam índices significativos em relação à nupcialidade da mulher negra. Segundo seus estudos, aos 30 anos, cerca de 30% dessas mulheres já se encontram sós. Aos 50 anos, 41% das negras não possuem um parceiro, enquanto que aos 60 anos esse valor atinge 71%. Em contraposição, somente 27% dos homens negros chegam sozinhos aos 60 anos” (BERQUÓ, 1988 apud SOUZA, 2008, p. 71). Destaco, aqui, uma das conclusões de Claudete Alves da Silva Souza (2008), que vai além dessas últimas informações acerca da mulher negra, quando a autora afirma que não somente a partir da década de 1980, mas “sua trajetória, a partir da ruptura diaspórica africana até a contemporaneidade, foi permeada pela solidão” (p. 39) Fatores como demografia, situação socioeconômica, nível de instrução e região eram indicados como principais responsáveis pelos dados apresentados. Apenas posteriormente, com os estudos demográficos dos anos 1980, foi destacada a importância da intersecção entre gênero, raça, idade e outros como causadores da solidão da mulher negra (PACHECO, 2013). Outro indicador que corrobora com as informações apresentadas acerca da solidão feminina negra é a preservação da prática da miscigenação desde a formação da sociedade brasileira. Segundo Azevedo (1996 apud PACHECO, 2013, p. 22), ela “vem se realizando, nas últimas décadas do século XX, muito mais pela preferência afetivo-sexual dos homens negros por parceiras não negras do que ao contrário”. O movimento feminista negro tem discutido essa pauta há muito tempo e essa discussão ganhou maiores proporções com a internet e as redes sociais. Ademais, a temática foi investigada por diversos pesquisadores ao longo das décadas; não a temática da afetividade diretamente, mas outros aspectos que colaborariam para o seu entendimento posteriormente. Assim como afirma Souza (2008), “compreender os interstícios da solidão da maioria das mulheres negras é fazê-lo, inicialmente, tendo-se em vista a compreensão do próprio 3 modelo de sociedade, dado o seu processo de formação histórica” (p. 25). Portanto, se traçarmos um breve percurso histórico, desde o século XIX, dos estudos raciais no Brasil, como o faz Ana Cláudia Lemos Pacheco (2013), será possível notar fatores histórico-culturais implícitos e explícitos nessas teorias que contribuíram para a solidão da mulher negra. Inicialmente, no século XIX, a miscigenação era considerada uma prática negativa. O médico Nina Rodrigues foi um dos defensores da teoria da degenerescência. De acordo com Pacheco (2013, p. 53), “a tese da degenerescência racial baseava-se numa concepção de que existiam ‘tipos ou raças puras’. Acreditava-se que a mistura de raças seria maléfica porque traria uma degenerescência mental e física às espécies”. Já no início do século XX, manifesta-se uma nova teoria, a do branqueamento. Ao contrário do que se pensava anteriormente, defendia-se a miscigenação, pois acreditava-se que ela levaria a população ao clareamento, considerando que, segundo as hipóteses de Oliveira Vianna (1933), “permaneceria a etnia mais forte, mais propícia a fecundação (a europeia)” (apud PACHECO, 2013, p. 54). Posteriormente, nos anos 1930, Gilberto Freyre considerava a miscigenação como fator de contribuição para a amenização da desigualdade racial. Além disso, o autor acreditava que “a escassez de mulheres brancas possibilitaria uma maior reciprocidade entre as mulheres escravas e os colonizadores portugueses” (PACHECO, 2013, p. 56). As críticas à teoria de Freyre concernem, principalmente, à invenção de uma suposta democracia racial, à perpetuação de estereótipos da mulher negra como objeto de desejo sexual e à situação de passividade que o autor agregou à mulher negra ao afirmar que haveria uma reciprocidade sexual-afetiva entre negros e brancos, invisibilizando os diversos relatos de estupros e a resistência e luta dessas mulheres contra o sistema patriarcal escravista. Para alguns autores, como Viotti da Costa (1998), a miscigenação era apenas mais uma das formas de violência existentes no período escravocrata. Apesar disso, como afirmado anteriormente, a miscigenação é ainda um fenômeno recorrente. Faz-se necessário, portanto, entender os motivos pelos quais esse processo acontece e seus desdobramentos.