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Este artigo investiga, à luz de um olhar psicanalítico, a presença de um mal-estar histórico na relação entre as culturas de tradição oral e a escrita. O recorte delimita-se a partir das invenções, respectivamente, do alfabeto grego e da imprensa com a consolidação do fenômeno nos séc XX e XXI a partir das perspectivas de Havelock, Ong e Peter Burke. A hipótese inicial parte da tese de que a mudança de paradigma de ressignificação da memória, de uma mentalidade oral para o escrito, tem promovido na relação, nem sempre harmônica entre a oralidade e escrita, certo malestar nas culturas de tradição oral, cujos sintomas podem ser expressos – dentre outras formas – pela maneira como estas têm sido tratadas: quase sempre relegadas à condição de atraso, museu, congeladas no tempo e no espaço. Para a concepção de memória parte-se de Changeux, Le Goff, Geary, Santaella e Zumthor, dentre outros que partilham da mesma ótica. Por sua vez, os sintomas, típicos do mal-estar, decorrentes da histórica e necessária interação entre oralidade e escrita, na perspectiva psicanalítica freudiana, podem estar associados a duas razoes: a primeira delas se refere à necessidade de readaptação do canto da musa a uma nova tecnologia, permitindo-lhe reconhecer a autoridade revolucionária da escrita, vista – de início – pela musa com perspicaz preocupação. A segunda, se refere ao ‘mal-estar’ contido e (des)velado, a partir de um desejo de um acústico reprimido. A massificação da escrita, atrelada ao poder econômico que dela adveio, teriam gerado grande tensão que se engendrou entre as duas culturas.

CARTOGRAFANDO UM MAL-ESTAR HISTÓRICO ENTRE AS POÉTICAS DE TRADIÇÃO ORAL E A CULTURA ESCRITA.