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Este artigo, extraído de uma pesquisa num Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do município de São Paulo, possibilitou observar a prática do desenvolvimento de grupos com fins terapêuticos. O manuscrito tem origem no trabalho final do mestrado profissional do Programa de Estudos Pós-graduados em Educação nas Profissões da Saúde e a defesa do trabalho final tem como título “Reflexões sobre os Projetos Terapêuticos Singulares a partir do Discurso do Usuário”. O resultado da pesquisa nos sugere que sua configuração se baseia na ideia popular do “tudo junto e misturado”; ideia essa que não permite espaço para a diferença. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, exploratória, descritiva. A modalidade de abordagem foi pela via da investigação-ação, orientada para a resolução de um problema coletivo, no qual se envolvem a pesquisadora e os participantes nesse processo em ação. A pesquisa foi desenvolvida no primeiro semestre de 2012 e concluída no segundo semestre de 2013. A possibilidade preocupante que outros CAPS funcionem sujeitando seus usuários às significações dominantes nos estimulou a uma reflexão sobre a prática nos CAPS, especialmente no planejamento de atividades coletivas, concernentes à modalidade verbal. Para melhor compreensão dos aspectos apontados em relação às reflexões feitas neste artigo, se faz necessário ampliar nosso olhar quanto ao surgimento de um novo paradigma da sociedade contemporânea, especialmente as relações de trabalho concernentes à saúde. Referimo-nos às atuais relações horizontalizadas de trabalho, em detrimento às verticalizadas do passado, que corroboram a análise por nós realizada quanto ao planejamento de atividades coletivas. Durante algum tempo preconizava-se a especialização, como um modo eficiente de trabalho, quer seja na assistência à saúde, quer seja na gestão dos processos de trabalho, especialmente em Saúde Mental. Como consequência, a fragmentação era o jeito que os técnicos e serviços sustentavam sua prática. Desse modo, o olhar do especialista voltava-se somente ao órgão doente ou sintoma e não ao sujeito em suas relações, articulado ao contexto que a queixa aparecia. Esse olhar começou a ser interrogado no sentido de que o tratamento estaria voltado exclusivamente para a doença, deixando de lado outros fatores importantes como a dimensão subjetiva presente na queixa do sujeito. Além da fragmentação, os processos de trabalho incidiam sobre a verticalização das relações institucionais, configurando uma hierarquia solidamente estabelecida. Porém, com o advento de novos paradigmas da sociedade contemporânea, surgem mudanças significativas, cujas características básicas transformam as relações sociais, pessoais e de trabalho numa sociedade horizontalizada, trazendo consequências às práticas dos serviços de saúde. No que concerne aos CAPS, os grupos de modalidade verbal, a nosso ver, tendem a confundir relações horizontais com ações igualitárias, cujas especialidades se perdem configurando propostas iguais, como se todo sujeito assim o fosse. A direção do tratamento no CAPS é produzida coletivamente — que é uma característica desse serviço — por meio das diversas propostas de tratamento como grupos de medicação, de terapia ocupacional, oficinas de artesanato, grupos psicoterápicos etc. O termo “tudo junto e misturado” imprime um sintoma social que vai à esteira de movimentos coletivos, a partir da crença na solução universal em que o sujeito tende a perder sua singularidade. Atualmente no processo de horizontalização, os efeitos são orientados para práticas “do para todos”. Isso faz com que a singularidade de cada sujeito seja deixada de lado em um processo de homogeneização. Os CAPS capturam essa vertente ideológica e solidificam grupos baseados nessa dimensão. É preciso também ressaltar que, do ponto de vista das políticas públicas, graças à Reforma Psiquiátrica, entre outras razões, as denúncias ao modelo manicomial, iniciou-se a construção de um novo modelo de cuidado aos portadores de sofrimento psíquico, hoje concebido como CAPS. Sem dúvida foi um grande avanço no tratamento aos transtornos psíquicos, posto que a concepção de desinstitucionalização, assim como de cuidado integral, possibilitou a reconstrução do lugar da loucura, tanto para os próprios usuários do serviço como nas suas relações. O que nos interessa destacar é, segundo nossa análise, o modo como alguns grupos desse CAPS planejam suas atividades coletivas, pois se mostraram destituídas de sentido

Uma reflexão sobre grupos terapêuticos de um CAPS: “Tudo junto e misturado”: Que lugar ocupa a singularidade?