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Com esses versos do poema “Meus trinta anos” de Juan Francisco Manzano, inicia-se a edição inédita de sua autobiografia, uma das únicas a ter sido escrita por uma pessoa escravizada na América Latina. Redigido por volta de 1835 sob a encomenda de um grupo antiescravista liderado por Domingo Miguel del Monte y Aponte, o texto de Juan Francisco Manzano é bem conhecido entre os estudiosos do escravismo, embora pouco mencionado no Brasil. Trata-se de um documento histórico fundamental por oferecer uma visão interna da escravidão no período do boom de engenhos açucareiros de mão de obra cativa em Cuba, com riqueza de detalhes. Tudo isso de um ponto de vista pouco comum, o do escravizado, e sem ocultar os horrores característicos de um sistema econômico baseado na violência da apropriação, exploração e degradação de vidas humanas e, mais especificamente, de africanos e seus descendentes. A primeira tradução desse documento no Brasil enfatiza algumas peculiaridades da autobiografia que reiteram, mas ao mesmo tempo ultrapassam, em muito, o interesse historiográfico que com razão desperta.

MANZANO, Juan Francisco. A autobiografia do poeta-escravo. Organização e tradução de Alex Castro. São Paulo: Hedra, 2015.