English (United Kingdom)

https://curated-unify.zendy.io/wp-json/zendy-region/v1/featured_content/oa?rat=en

https://curated-unify.zendy.io/wp-json/zendy-region/v1/highlighted_journal/

Global: Zendy Plus annual

Presents the access of premium content as premium feature

Premium Content

Presents the keyphrase highlighting as premium feature

Keyphrase Highlighting

Presents the summarisation as premium feature

Summarisation

Insights

Presents the pdf analysis as premium feature

PDF Analysis

Presents the zaia usage as premium feature

ZAIA

Global: Zendy Tools annual

Global: Zendy Free Plan

Global: Zendy Tools monthly

Global: Zendy Plus monthly

Era uma vez sete crianças que foram abandonadas numa floresta pelos pais, que não lhes podiam mais dar comida. Guiadas pelo irmão caçula, tão pequenino quanto um dedo polegar, foram parar na casa de um gigante. A esposa do homenzarrão atendeu à porta e logo os advertiu que era costume de o marido comer criancinhas. Os meninos, entretanto, não tiveram escolha: ou morriam na floresta devorados pelos lobos, ou arriscariam a sorte, mesmo sabendo que o ogro poderia comê-los. À noite, quando o monstro descobriu as pequenas presas em casa, mandou a esposa alimentá-los e colocá-los para dormir, na esperança de saboreá-los no dia seguinte. Mas, numa manobra de astúcia comandada pelo Polegar, os irmãos conseguiram escapar do malvado e fugiram para a floresta. O gigante lhes bateu atrás, mas o caçula, o menor deles e o mais astuto, conseguiu ludibriar novamente o mais forte, fazê-lo adormecer, roubar sua bota encantada, voltar à casa do ogro e ainda tirar-lhe toda a fortuna, o que, enfim, garantiu o sustento da família dos meninos famintos. “Le petit Poucet” pertence ao imenso repertório de histórias dos camponeses franceses do Antigo Regime, recolhidas e recontadas por Charles Perrault. Os tempos que antecediam à Revolução eram bem difíceis para quem vivia na fronteira entre a pobreza e a miséria. Os contos populares são “documentos históricos (...) que retratavam um mundo de brutalidade nua e crua”, nos explica Robert Darnton (1986, p. 26,29). Às vezes apelando para a imaginação e a fantasia, outras vezes usando de hipérboles para superdimensionar requintes de crueldade, essas histórias são representativas de um tempo e uma ordem social conturbados, de muita fome, escassez, epidemias e luta pela sobrevivência. São narrativas que jazem esquecidas e soterradas pela “história dos eventos”, aquela ocupada com a crônica das gestas dos reis, das batalhas e conquistas, do troca-troca de ministros, das intrigas da corte (id. ibid., p. 41). Mas o povo comum, como assim o denominam os historiadores culturais, produzia suas próprias histórias e não prescindia delas. Sabia que, para além do silêncio das florestas ameaçadoras e dos cronistas oficiais, a experiência precisava ser narrada para ser compreendida. Darnton nos ensina que os contos populares franceses do Setecentos eram, sim, entendidos por quem narrava e quem ouvia. Os pequeninos sabiam identificar seus inimigos nas histórias que contavam e ouviam e eles eram bem reais: dos lobos que rondavam as matas aos bandidos que saqueavam suas casas, aos ricos e poderosos que os mantinham sob mãos de ferro. “Não exigia nenhum grande voo de imaginação vê-los como verdadeiros tiranos (...) [Os oprimidos] não matam gigantes numa terra imaginária, mesmo quando têm de trepar por pés de feijão para alcança-los” (id. ibid., p. 83).

SPOTLIGHT OU A BUSCA DA HISTÓRIA: MÍDIA E NARRATIVAS DO SILÊNCIO