Open Access
A educação superior e os desafios da prática docente
Author(s) -
Anselmo Alencar Colares
Publication year - 2017
Publication title -
revista exitus
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2237-9460
pISSN - 2236-2983
DOI - 10.24065/2237-9460.2018v8n1id404
Subject(s) - humanities , philosophy
Certa vez li uma narrativa sobre uma empresa do ramo de calçados, a qual pretendia estabelecer uma filial em outra cidade e para lá enviou seu vendedor mais experiente para que pudesse ter um termômetro do potencial de negócios. Na bagagem um número limitado de produtos para uma primeira venda. Ao chegar ao local o vendedor mediante observação atenta ficou abalado e enviou mensagem solicitando que seu retorno fosse abreviado argumentando “aqui ninguém usa sapatos”. Os dirigentes da empresa acolheram o pedido, porém, resolveram enviar um segundo emissário. Desta feita um jovem vendedor, sem a experiência do primeiro, todavia com o entusiasmo e a vontade de acertar que são típicos das pessoas determinadas. Este, ao chegar e também fazer a observação atenta, imediatamente enviou mensagem com o seguinte teor: “Mandem mais sapatos. Aqui ninguém usa!”.Uma mesma situação vista sob perspectivas diferentes. Um olhar “experiente” – colocada entre aspas por concordar com o entendimento de Larossa para o qual a experiência não pode ser confundida com o tempo. As vezes uma pessoa faz algo durante décadas, mas a experiência é mínima porque faz sempre da mesma forma irrefletida. Por outro lado, outro que faz a menos tempo, exercita a capacidade reflexiva e com isso reelabora o conhecimento sobre o que faz, ampliando o saber e, por conseguinte, a experiência.Como estou me dirigindo a professores que acabam de ingressar na Ufopa, faço uma analogia com a narrativa acima e convido-os a se perguntarem sobre qual olhar lançam sobre esta instituição e sobre as pessoas para as quais vão estar “vendendo” seus produtos. Estou utilizando os termos mercadológicos apenas como ilustração, mas é claro que não considero a educação mercadoria e muito menos as pessoas como clientes, nem tampouco a instituição universidade como uma organização. Alias, sugiro a leitura de textos de Marilena Chaui nos quais ela aborda este tema com muita propriedade, fazendo a defesa da instituição e apontando todos os problemas decorrentes da crescente investida para que ela torne-se cada vez mais operacional, em detrimento do seu papel político e social enquanto instituição publica.