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Por que os mortos falam? Uma leitura de Eros e Thanatos no romance de Filipa Melo
Author(s) -
Alessandra Leila Borges Gomes Fernandes,
Bruna Souza Rocha Oliveira
Publication year - 2019
Publication title -
légua and meia/légua and meia
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2177-0344
pISSN - 1676-5095
DOI - 10.13102/lm.v10i1.3649
Subject(s) - humanities , art , romance , literature
A partir das noções de literatura e experiência de morte, conceitos extraídos de Phillipe Ariés e Maurice Blanchot, analiso a história que é tecida no romance Este é o meu corpo, de Filipa Melo, que aborda a relação de Thanatos e Eros, mitos gregos definidos por Sigmund Freud como pulsão de morte e pulsão de vida. Movimentando-se entre pequenas narrativas, que funcionam como um mosaico de memórias, costumes, amor-paixão, violência contra a mulher, entre outras agudezas da condição humana, a autora portuguesa desenvolve no romance — cujo título remete à homília católica da eucaristia — um personagem-chave para elucidar o crime. Trata-se não de um detetive oficial, mas de um narrador médico-legista, que, no processo de autopsia, vai desvendando as circunstâncias da morte da personagem Eduarda, a fim de devolver a identidade da vítima: uma mulher jovem, encontrada morta e desfigurada numa praia. Contraditoriamente, ao tentar revelar como se deu esse assassinato, o labor da autópsia permite que o corpo sem vida fale. Nesse sentido, compreendo que o médico-legista é a metáfora da própria literatura, no seu trabalho incessante, a nos conduzir à dimensão em que Eros e Thanatos se enfrentam e se mesclam, enquanto o corpo irreconhecível da moça é a realidade, matéria disforme e permeada de signos, a nos pedir leitura, tradução, forma, representação.