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This work makes a discussion presenting possible glances about the body. First we speak of the conditioned body guided by the life-styles propagated and propagated by health professionals. Then we look at the body instituting what is health and what is disease. Finally, through reports from the leaders of the terreiros, we perceive the body as a place of knowledge, building other ways of being and existing with autonomy and singularity. Palavras Chave: Body. Culture. Afro-Brazilian Religions. Subjectivity. Introdução Pretendemos nesse trabalho abordar uma parte dos resultados da pesquisa intitulada “A noção de sujeito saudável na experiência de lideranças dos terreiros” (KAWAHARA, 2017) desenvolvida no departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Nosso objetivo aqui é apresentar olhares sobre o corpo e a experiência de lideranças dos terreiros compondo aspectos do sujeito saudável. Para isso, primeiramente, discutiremos algumas concepções voltadas ao corpo em nossa sociedade relacionadas ao que 1 Autores: Ms. Eduardo Hideto Kawahara Filho. Fundação Educacional de Fernandópolis – FEF. Email: eduardohideto@hotmail.com. Prof. Dr. Juan Carlos Aneiros Fernandez. Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Email: juancaf@fcm.unicamp.br. é considerado como vida saudável pautada pelo modelo hegemônico na área da saúde. Depois, abordaremos o processo saúde-doença em autores da área das ciências sociais e saúde com diferentes compreensões principalmente frente a interface do sujeito e o seu corpo buscando o saudável. Em seguida, pretendemos explorar algumas experiências de lideranças dos terreiros relatadas em uma pesquisa sobre práticas de cuidado nos terreiros e a sua interface com o Sistema Único de Saúde – SUSi ii (2). O cotidiano na sociedade ocidental está marcado atualmente por saberes e fazeres vindos dos contextos biomédicos do que é uma vida saudável. Pensando no dia a dia de uma pessoa nas cidades, por exemplo, podemos imaginar que desde o momento de acordar, na escolha do tipo de leite pela manhã, até o momento de ir dormir com informações sobre o “sono regenerador”, essa pessoa pode pautar sua vida se baseando nos conhecimentos da área da saúde propagadas e propagandeadas pelos especialistas e profissionais de saúde. Bortolazzo e Machado (2014, p.76) analisam um quadro em um programa de TV com grande audiência em que especialistas em saúde e celebridades falam sobre como perder peso e/ou ter melhor qualidade de vida. Para os autores acima: Os artefatos culturais midiáticos estão estruturados de tal forma que ensinam às pessoas uma infinidade de práticas, comportamentos e incitam sonhos e desejos, às vezes, de forma irresistível e sedutora. Eles englobam a produção e a circulação de saberes, onde jogos e relações de poder vão estabelecendo determinados modos de ser. Ou seja, existe toda uma cultura influenciando a adoção dos estilos de vida do que é considerado como saudável. O meio de comunicação mais adotado pela população brasileira é a televisão aberta. Sobre esses saberes e fazeres, segundo Rabinow e Rose (2006, p.29), fazem parte de ações biopolíticas operando através de discursos científicos em que as pessoas aderem a certos comportamentos e atitudes em uma postura de autocuidado. Esses autores refletindo sobre o conceito de governamentalidade discutem esse processo nos termos de: Modos de subjetivação, através dos quais os indivíduos são levados a atuar sobre si próprios, sob certas formas de autoridade, em relação a discursos de verdade, por meio de práticas do self, em nome de sua própria vida ou saúde, de sua família ou de alguma outra coletividade, ou inclusive em nome da vida ou saúde da população como um todo. Para Ortega (2003) o corpo é o lugar central na contemporaneidade onde muitos desses discursos atualmente podem ser encontrados e desenvolvidos. A subjetividade está cada vez mais somatizada. Ortega discute o que chama de bioascese para falar das ações dos indivíduos na construção da subjetividade, agora “externalizada”. Esse autor fala ainda de alguns padrões estabelecidos para os corpos. Assim, o indivíduo “sarado”, “fitness”, “bombado”, é um indivíduo que pode ter um lugar de respeito e confiança em nossa sociedade, diferentemente de uma pessoa obesa, por exemplo. Ou seja, essas práticas falam de certas qualidades das pessoas. E elas assumem um caráter moral. As práticas ascéticas são descritas em vários momentos históricos, sendo que em cada um deles almeja possibilidades de construção de si diferentemente. Entretanto, algumas das características das práticas bioascéticas de nosso tempo diferente de outras épocas, é o seu aspecto conformista, egoísta e individualista. Como consequência A cultura somática produz indivíduos desconfiados e melindrosos, inseguros de si e insensíveis para o outro e para o mundo. Sem a confiança em si mesmos e nos outros não pode haver ação, somente indivíduos reativos, adaptados, obedientes e submissos. (ORTEGA, 2003, p.75) Desso modo, esse enfoque do que é considerado saudável pode não ser tão saudável assim. Autores que contribuem para essa crítica são Castiel et al. (2010) dizendo que as ações de saúde pautadas pelo conhecimento riscológico (construído por meio de probabilidades estatísticas) não pode ser considerado como uma verdade absoluta, inquestionável, uma vez que pode ou não acontecer, no caso da prevenção de adoecimentos, por exemplo. Castiel et al. (2010) falam que um cenário de saúde constituído apenas por esse tipo de conhecimento pode ser prejudicial para a saúde das pessoas. As pessoas diante tantas informações, regimes, dietas, descobertas de novas doenças e tratamento, medicamentos, especialistas em saúde e etc., teriam como consequência sentimentos de frustração e ainda, culpa por não estarem talvez conseguindo realizar as mudanças comportamentais idealizadas. O que pode fomentar ainda mais a criação, uso e abuso, de tratamentos médicos e medicamentosos em uma espiral de ilusão. Outros olhares possíveis para o corpo saudável Um olhar diferente sobre o processo saúde-doença entende o saudável também relacionado ao enfrentamento dos riscos. O saudável como resultado de comportamentos não condicionáveis. Caponi (2003) fala desse processo como algo vulgar, ou seja, um acontecimento ao alcance de todos e de maneira contínua ao longo de toda a vida. Saúde e doença não como opostos muito bem definidos, mas fazendo parte de um mesmo processo dentro de um continuum. Contribuindo com essa ideia, citamos o conceito de normatividade vital elaborado por Canguilhem (2009): todos estamos inerentemente imersos em um campo contingencial de fatores patológicos, assim, o saudável passa pela possibilidade do indivíduo em contribuir com a própria qualidade de vida, adaptando-se as mais diversas situações, sendo normativo portanto. Adaptação não àquelas normas reguladas pela área da saúde através dos estudos sobre determinadas substâncias benéficas, práticas de exercícios, etc., nem tampouco às normas construídas socialmente. Mas uma adaptação passando pela deliberação e construção do indivíduo. Pensando o corpo na discussão proposta por Canguilhem citamos a situação das pessoas com alguma deficiência física. As pessoas com determinadas deficiências por muito tempo foram consideradas como portadores de doenças na sociedade. Ou ideia pior, era a própria “doença” da sociedade. Em alguns sistemasiii e locais, inclusive em nosso paísiv, pessoas com deficiências literalmente foram esterilizadas, quando não, assassinadas por terem deficiências. A essas pessoas (e não falamos de muito tempo atrás assim) eram destinados lugares específicos (geralmente afastados dos meios urbanos), com métodos próprios, professores especializados, instituições de caridade, ou seja, todo um aparato teórico e técnico específico, no intuito de que com sucesso das “terapêuticas” essas pessoas com deficiências poderiam se curar e serem inseridas novamente na sociedade para viverem com as outras pessoas consideradas “normais”. Entretanto, algumas situações relacionadas às pessoas com deficiências foram mudando com o tempo. No âmbito individual, pensamos que as mudanças começaram a ocorrer quando as pessoas com deficiências começaram a falar sobre seus próprios problemas e limitações. Assim, foram criadas narrativas, problematizações, reivindicações, associações de pessoas e familiares com deficiências, no intuito de singularizar as dificuldades que sofriam, a partir dos discursos delas mesmas, ou seja: as mais interessadas que mudanças acontecessem. Cria-se todo um modo de ser e de viver a partir da dimensão corporal. Foram reivindicados tratamentos melhores, direitos e possibilidades. E novas normas foram sendo construídas. Então uma condição considerada patológica (congênita ou adquirida) pensada a partir do corpo provocou resistência e autonomia. As pessoas com deficiências nessa situação buscam vencer por elas mesmas os obstáculos que a vida de alguma forma havia imposto. Outra instância dessas mudanças sobre a deficiência como doença diz respeito à relação corpo/ambiente que, segundo Canguilhem (2009) define o que é normal e o que é patológico. Tal mudança foi acontecendo suplementarmente, conforme diz Saflate (2011) também no âmbito social. Pois o ambiente em que as pessoas com deficiência vivem influenciam sobremaneira na qualidade de vida delas. O ambiente onde vivemos é facilitado em termos de mobilidade, por exemplo, às pessoas com determinadas qualidades em detrimento de outras: pessoas que se locomovem sozinhas, que podem enxergar, escutar. E as pessoas que utilizavam as cadeiras de rodas, ou cegas ou surdas, entre outras deficiências, praticamente não transitam nas cidades. Ou seja, não conseguem existir no meio social. Assim, diante algumas mudanças respaldadas por leis de acessibilidade que ainda em nosso país é um entrave e desrespeito constitucional, demonstra que as pessoas com deficiências podem ter uma vida normalmente como qualquer outr

brazilian journal of health review

Do corpo que temos ao corpo que somos: A experiência como experimentação nos terreiros / Of the body that we have to the body that we are: The experience as experimentation in the terreiros